Titulo: 13 Reaons Why
1°Temporada: 13 Episódios
Gênero:Drama / Ficção / Literatura Estrangeira / Suspense e Mistério
Sinopse:Ao voltar da escola, Clay Jensen encontra na porta de casa um misterioso pacote com seu nome. Dentro, ele descobre várias fitas cassetes. O garoto ouve as gravações e se dá conta de que elas foram feitas por Hannah Baker, uma colega de classe e antiga paquera, que cometeu suicídio duas semanas atrás. Nas fitas, Hannah explica que existem treze motivos que a levaram à decisão de se matar. Clay é um desses motivos. Agora ele precisa ouvir tudo até o fim para descobrir como contribuiu para esse trágico acontecimento.
13 Reasons Why conta a história do adolescente Clay Jensen, que ao voltar um dia da escola, encontra na porta de sua casa um misterioso pacote com seu nome. Dentro, ele descobre várias fitas cassetes. Quando ouve as gravações, Clay se dá conta de que elas foram feitas por Hannah Baker, sua colega de classe que cometeu suicídio duas semanas antes. Nas fitas, Hannah explica que existem treze motivos que a levaram à decisão de se matar; pior ainda, Clay descobre que é ele mesmo um desses motivos.
A série, cuja produção é da cantora Selena Gomez, se baseia no romance homônimo do escritor Jay Asher publicado em 2007, que alcançou o primeiro lugar no New York Times Bestseller em julho de 2011. No Brasil, o livro foi lançado pela Ática. A produção conta ainda com as direções de Tom McCarthy (Spotlight: Segredos Revelados), Gregg Araki (Mistérios da Carne), Carl Franklin (The Leftovers) e Jessica Yu (American Crime Story); esta última, responsável pelos melhores episódios.
Demorei para assistir a essa série por várias razões; uma delas se chama Jason Momoa (YYY), que estava em outra série. Outra, foi porque achei que 13 Reasons seria uma chatice enorme. Entre o primeiro e o segundo episódio, passaram-se muitos dias. E quando voltei a assistir, a coisa não melhorou. Com capítulos com mais de 40 minutos que não rendem e parecem durar mais de três horas, tudo é muito moroso até o episódio 6, que então vai bem até o episódio 9. Daí a história volta a ralentar até o episódio 12 e, finalmente 13, que termina do pior jeito possível. Senti raiva desse ritmo e pausei várias vezes para comer e fazer tudo o que, teoricamente, não se faz quando se assiste a uma série.
A produção trata do velho mote americano sobre o ensino médio, onde a novata feia ou diferentona não se encaixa entre os populares da escola, que geralmente estão entre os atletas e as cheerleaders , que daí conhece um cara mais sensível que até gosta dela e ela até gosta dele, mas como quer se encaixar, acaba ficando com o atleta popular babaca que vai ferrar com a vida dela. Praticamente um produto da cultura americana, genuíno orgulho nacional - e que deve ser um perrengue, porque eles só falam disso -, a conclusão desta história depende de quem conta, embora nunca tenha havido muita variação. Neste sentido os filmes dos anos 80 são mais legais porque são despretensiosos e até escrachados. Bons exemplos são Gatinhas e Gatões, A Garota de Rosa Shocking, Alguém Muito Especial, Namorada de Aluguel, Admiradora Secreta, Clube dos 5, Te Pego Lá Fora etc. Nestes filmes já existe o tom do que é errado, do bullying e da vingança; porém depois de Columbine e Efefante, de Gus Van Sant, que cutucou e torceu a ferida numa competência que só um grande cineasta alcança, a coisa começou a ser vista de outra forma.
Há muito tempo que tudo é politicamente incorreto e quem se opõe a isso batizou todo o resto de “mimimi”. É nesse encontro que 13 Reasons acontece, falando clara e abertamente de violência e das questões que permeiam todo adolescente, como a necessidade de aceitação – que pode perdurar na vida adulta –, a experimentações da sexualidade e sim, de uma imaturidade emocional que pode levar ao suicídio.
Como produção a série tem seus furos. Começa pela paleta marrom-azulada da moda. Embora a abertura com o desenho das fitas seja muito legal, as fitas não se justificam. Hannah cria uma dificuldade para os destinatários das gravações que faz parte do sadismo de deixar a culpa para quem fica. Ela está, sim, se vingando e isto fica ainda mais claro na fita de Clay, onde ela o faz se sentir culpado e, na última fita, onde ela arma para o conselheiro falhar; pois embora ele seja muito ruim no que faz, Hannah precisa dessa confirmação da falha para seguir com seu plano. Se o bilhete suicida (porque a série é um longo bilhete suicida) dela fosse escrito ou entregue pela internet, o efeito que ela quis causar ficaria diluído; mas parece que o verdadeiro terror é fazer uma geração I-Phone escutar fita cassete num aparelho que não sabem o nome, nem como usar.
Embora surta efeito e “prospere”, podia acontecer muito bem de ninguém ouvir ou ouvir e nem ligar, já que ninguém se importava com ela. Não existe um estímulo convincente para essa galera fazer qualquer coisa em relação a esta história, mesmo que seja por autopreservação.
Ainda em relação às fitas, embora haja um jogo bom com Clay Jensen, sobre seu número de fato na lista, por que ele não ouve tudo de uma vez? Eu me perguntei isso de cara; a série perguntou no segundo episódio e a resposta foi que ele achava difícil, que ficava vendo Hannah em todos os lugares. À parte que deve ficar claro, que ele alucina, é uma justificativa pobre, que não é coberta pela paixão, porque não acelera nada na história nem quando a coisa fica feia. No fim é só para fazer durar 13 capítulos um suspense interminável que se resolveria em 6 capítulos. Como disse um amigo, quando termina a série você tem a sensação de ter assistido a 13 Reasons Why.
Embora você também corra o risco de achar a Courtney uma manipuladora filha da mãe, tanto ela quanto os demais nomes da lista são praticamente sem nuances, sem construção de personagem, além de apresentarem argumentos pífios para suas ações. Embates ficam pelo meio do caminho e as justificativas de tudo nesta série são inverossímeis demais, até para adolescentes acreditarem.
A transição das cenas e os flashbacks são manjados e embora a maior parte das coisas que tenham me chamado a atenção no primeiro episódio, foi sendo trabalhada no decorrer da trama, eu não entendi o fato de Clay passar a assinar um relatório de frequência que data de outubro de 2017, que não tem a ver com o período escolar e que ficou por isso mesmo até o fim. Porém o que fez a série perder a força de vez, foi o final “para cima”. Os produtores justificaram como uma mensagem a se passar, de que pequenas mudanças nas atitudes fazem maravilhas. Concordo; mas não funciona. Parece resquício do manual que surgiu há décadas de que obrigatoriamente todas as produções devem terminar “para cima”, porque “para baixo” não dá lucro. A força desta série reside justamente no “para baixo”, na ausência de alívios cômicos e, abrir mão disso, foi abrir mão da crueldade que se buscou retratar desde o início; haja vista as cenas de estupro e do suicídio que beiram o intragável.
Algo bom na trama é o elenco, que com uma ou outra discrepância, leva a história; a química entre os protagonistas é ótima. Outro ponto alto é a trilha sonora. Logo de cara ouvimos Joy Division, uma escolha impactante, que infelizmente volta a perder força diante da explicação pobre desta escolha no episódio sobre o Dia das Bruxas; o mesmo vale para a escolha do nome Clay (argila) para o protagonista. Claro que a trilha ainda tem The Cure e a própria Selena Gomez, mas o incômodo geral para os críticos foi a escolha de “My Hey, Hey (Out Of The Blue)”, de Neil Young, no episódio do suicídio, uma vez que esta música foi citada na carta suicida do músico Kurt Cobain.
Outra coisa boa da série e que há de se ficar atento, é o relacionamento dos pais destes jovens. Eles ficam com o trabalho mais difícil da trama e do que seria aquelas vidas, porém a pressão causada pela tragédia pode fazer com que eles sejam vistos como chatos, como costuma ver todo filho que se preze. Kate Walsh é uma escolha belíssima para o papel de mãe de Hannah, numa atuação silenciosa que é ensurdecedora.
Tratar estes temas de forma nova, de forma séria também é uma novidade relativa para os americanos, para as produções em geral. Parece que estamos todos tateando neste assunto e, por isso mesmo, toda tentativa é válida. Como produção existe uma sutileza que incomoda no filme As Virgens Suicidas que merece ser vista. E como objeto de vingança, acho Carrie, a Estranha, bem mais honesto. No entanto, a série parece funcionar com o público a que se destina.
O bullying, o machismo, as dificuldades dos jovens, seus sofrimentos e a maneira como suas mentes funcionam, continuam os mesmos em certa medida; entretanto a disseminação disso, hoje tem outra cara. As redes sociais ultrapassam barreiras estranhas, que remontam a Black Mirror, mas que acontecem aqui no Brasil, dentro e fora de casa, em coisas que se você parar para pensar, vai descobrir que aconteceram com você; em coisas que se eu parar para contar, você vai descobrir que aconteceram comigo; em coisas como o estupro da garota carioca por 30 caras e o caso da estudante que foi estuprada dentro da Universidade, delatou os agressores, que levaram apenas uma advertência e mantiveram seus diplomas, enquanto ela, cansada após quatro anos de luta por justiça e sofrendo chacotas, acabou se matando, o que me fez chorar profundamente, quando soube desta história. Se você der uma busca no Google, vai se assustar com a quantidade de notícias, já desse ano, já desse mês...
Existem ainda outras preocupações sobre a série; um deles é a visão distorcida de justiça. Numa cena em que todo o mundo atira uma pedra na janela de Tyler, há uma alusão à passagem de Jesus e da mulher adúltera, que só atire a primeira pedra aquele que não tiver pecado. Todos vão embora e a mulher é perdoada. No caso de Tyler todos atiram a pedra; todos que foram tão responsáveis por atos horríveis quanto ele, que passa então a esperar pela próxima pedra. As pessoas estão mais perversas hoje porque o alcance da perversidade mudou. Por isso mesmo, especialistas afirmam que adolescentes deprimidos podem achar muito legal se vingar, entre outras coisas. Embora dar o troco deixe você momentaneamente feliz, é complicado passar esse tipo de resolução.
Outra preocupação levantada por especialistas é que a série contraria todas as normas estipuladas pela OMS para a prevenção de suicídio, quando romantiza seu ato, mostra-o como uma resposta aceitável às dificuldades e mostra ainda o método, local e detalhes da pessoa que faleceu. Você pode até achar besteira, argumentar que é uma obra de ficção, mas suicídio é assunto sério.
O suicídio está entre as principais causas de morte na adolescência, competindo com acidentes causados por veículos e arma de fogo. Há sinais preocupantes de que as taxas de suicídios de jovens estão crescendo no mundo e no Brasil e por aqui nunca houve uma campanha de prevenção. Muitos profissionais de saúde estão recomendando que a série não seja assistida, uma vez que ela tem potencial para influenciar negativamente pessoas que já estão emocionalmente fragilizadas. E embora a série não aborde isso, o suicido está ligado diretamente com transtorno mental, outro tabu que merece discussão e esclarecimento. Apesar da série também retratar como ineficaz, o que realmente faz diferença é buscar ajuda profissional ao invés de buscar culpados, isto sim, um ato doloroso e improdutivo, que pode equivaler à narrativa de um crime.
13 Reasons ainda oferece o “risco” de uma continuação. Assim como a série Westworld, não há necessidade, porque a narrativa foi encerrada em si; mas como sequências dão dinheiro, sempre existe uma rebarba possível de continuação. A última fala de Clay, “As coisas precisam melhorar”, se encaixa um pouco nesta possibilidade, ainda que em si, seja uma fala coerente.
Apesar de tudo, se conseguirmos nos repensar como seres humanos, em vários sentidos, isso já valerá à pena. Se pudermos ajudar a quem sofre a ver que, sim, a vida é foda (desculpem a clareza da expressão), e todos nós temos vontade de desistir em algum ponto da jornada, mas que a gente continua porque ela vai além de uma fase dolorida, dos traumas e das pessoas que nos decepcionam, isso já valerá à pena. Se pudermos nos colocar mais a serviço do outro, estarmos disponíveis para ajudá-lo, bem mais do que julgá-lo ou linchá-lo, isso já valerá à pena. Porque no final, como já dizia Kevin Arnold, personagem de Anos Incríveis, uma das séries sobre adolescente mais icônica que já existiu, você não vai lembrar o nome de metade das pessoas que passou tanto tempo tentando impressionar.